04 setembro 2007

Os Roedores


- Os ratos tomarão conta do navio!
Invadiram pelas cordas e correntes,
Sorrateiros durante as madrugadas.
Não vigiamos!
Bebíamos em todas aquelas noites.
Eles agora comandam a cozinha.
Em breve controlarão até a nossa água.
Ratos, meu senhor.
Do tamanho e peso de gatos,
Porém mais espertos, sagazes.
Chegaram nessas madrugadas
Em que sempre festejávamos nossas vitórias.
Hoje estão na cozinha e na despensa,
Mas em breve tomarão toda a nave.
Não aguardam a hora.
Dizem até querer o leme e a sua cabine, senhor.
Na biblioteca já destruíram seus livros.
Prometem escrever outra história a partir de agora.

- Um navio comandado por um roedor?
Que despropósito! O que falta mais?
Combatamos esses loucos animais.
Já lutamos mil guerras.
Já vencemos inimigos mais sanguinários.
No que eles serão mais capazes do que outros vencidos?
O que devemos temer?
Ratos, apenas ratos.
E como ratos hão de morrer.

- Capitão, é certa a sua decisão,
Mas essas criaturas vieram para ficar.
Dizem ser a nova tripulação,
Uma nova ordem, sei lá.
Alguns homens já se atiraram ao mar.
Disseram que já sondavam nosso barco
Quando acostado e quando estuado.
Ficaram lá, margeados, marginalizados,
Esperando ancorados
As brechas por onde entrar.
Nas noites em que baixamos a guarda
Não vimos nenhum.
No avançar das madrugadas
Regadas a festas e rum,
Eles espreitavam entre nós,
Soprando pelo barlavento
Suas mentiras em guinchos ensurdecedores
Que ainda assim não demos ouvidos.
Não demos atenção ao bando pestilento.
São os novos piratas. Hordas alopradas.
Estiveram sempre lá.
De migalha em migalha nos assaltavam,
Mas agora o fazem às toneladas.

- Mas são apenas ratos. Não entendo!
Seres grotescos, animais nocivos,
Mas podem ser facilmente esmagados,
Escaldados ou mesmo queimados vivos.
Não precisamos de canhão,
De florete ou fuzil.
Dai-lhes veneno
Que se vão do navio.

- O capitão não vê?
Os ratos, senhor,
Fazendo alarido na cozinha,
Também já tomaram o cais.
Estão aos milhares, milhões,

Promovendo desordem e bandalheira.
Por mais que não possamos crer,
Infestaram o porto, a cidade,
Rasgaram a nossa bandeira

E de um vermelho sangue
Tingiram os valores de nossos pais.

- Que calamidade!
Quais são nossas chances?
Resta-nos levantar âncora e partir
Ou ficar e lutar por dias, semanas ou meses a fio?

- Não, senhor, não devemos desistir,
Mas os que nos cercam derrubando panelas,
Fazendo algazarra com nossas reservas.
Os que nos espreitam, olhos famintos,
Roubando o que levamos anos para construir,
Agora já limpam os bigodes fartos de tudo

E nos atiram num profundo e macabro vazio,
Roendo também a nossa Liberdade.
Não temos escolha...
Os ratos já tomaram o Brasil.

2 comentários:

Carolina Cristina disse...

bando de ratos, cheios de fome pela população... só sabem é roubar, roubar e acabar com tudo... como pudemos deixar isso acontecer?
bjos...

Letícia Losekann Coelho disse...

Adorei! Conseguiste retratar o que acontece em nosso País! Se me permite, quero lhe pedir para poder ler teu poema em uma reunião do meu partido, posso?