11 outubro 2008

O Movimento das Estrelas


A luz entra fosca e à força
Entre as ondas que me acordam
A contragosto sobre as conchas
Quando cismo e durmo em plena praia
Vendo o brilho sobre os bancos de areia
Das espumas candeias do mar revolto.
Aguardam por entre elas tantas lendas -
Piratas, cem fragatas e sereias -
Que nadam no recôndito daquela enseada,
Enfileiradas em meus sonhos que se vão
Embalados pelo vento-canto lá da aldeia.
Aqui sopra um vento sonoro nas palmeiras
Quando a lua entra por entre as folhas negras.
O farfalhar rasteiro da palha seca,
A duna a se mover pela madrugada inteira
Como o arrasta-pé no baile,
Como o chocalhar da cascavel ligeira.
E quando a noite é assim, meu bem, eu caço estrelas
Por um céu de poema de Bilac.
Caço as grandes, as brilhantes, as pequenas,
E risco com o dedo em riste a Via Láctea.
Nas manhãs seguintes,
A brisa quente varre a varanda da casa
Repleta de ócio depois do almoço,
E já não sei se é ela ou o leque de minha avó
Que move a velha cadeira de balanço.
Como nunca soube se era o vento lá na praia,
Aquele vento nas ondas, nas folhas, na duna,
Que também movia as estrelas no céu.

06 outubro 2008

Remorso

Eu preciso escrever!
Escrever sobre essa dor,
Mas não somente.
Essa dor vívida, pungente;
Essa chaga em brasa me queimando.
Dor lancinante, vigorosa,
Sentida em verso e prosa
Que se agarrou ao meu peito
E cravou suas oito garras negras
Do arrependimento.

Eu preciso escrever na dor certeira,
Flecha ligeira
Que meu corpo transpassou.
Na dor moléstia grave,
Essa doença,
Essa ausência,
Razão do meu abatimento.
Sigo andando pelas ruas,
Chagas abertas,
Remoendo a dor que inunda,
A dor funesta,
A dor da morte prematura
Feito esse amor inerte e frio
Preso ao coração por um pavio -
Um bloco bruto de granito negro.
E me debato pela escuridão,
Moribundo insone,
Lutando contra a minha própria alma
Uma batalha que já sei perdida.
Mas fugir no som do mundo
Para sufocar essa saudade
De nada adianta, pois
Uma dor renascida me invade
Nas madrugadas longas
A gritar teu nome.