13 fevereiro 2010

Flor de Cimento e Sol (Waldemar Lopes)



Sobre o vazio imenso a flâmula da Idéia
fulgia, estrela ideal, na amplidão do Planalto.
Ao mundo mineral, em sopro de epopéia,
tinham cortado, outrora, o pasmo e o
sobressalto

das Bandeiras viris. Cantava no mais alto
dos verdes buritis a mansa melopéia
da brisa. Mas um dia a afanosa colméia
de candangos por fim daria o grande salto

na seqüência do tempo; e à cobiça forânea
– f l o r de cimento e s o l , ou mais:
contemporânea
do futuro – se opôs a Cidade sonhada

como Lúcio a compôs e a previra o profeta:
destino e doação, sonho tornado meta,
luz-síntese a indicar o rumo da escalada.

Martin Niemöller, (1892-1984)



Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar.

Martin Niemöller – pastor luterano alemão – 1933 (data presumida)

10 fevereiro 2010

DESPERTAR É PRECISO (Vladimir Maiakovski )

Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma Flor do nosso jardim e não dizemos nada.

Na segunda noite, Já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.

Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada,

Já não podemos dizer nada.

06 fevereiro 2010

Remorsos Velhos


(Cemitério de Montparnasse - París)

Os olhos turvos como o inverno
Na solidão da noite pairam, imersos,
E na escuridão vagam, perversos,
Sondando as almas pelo inferno.

Ingratidão veste este novo terno
E, na romaria negra dos regressos,
Presenteia os aflitos com esses versos -
Poeta do sombrio pátio interno -

E guarda'inda essas funestas dores
Num corpo com Deus em nada parecido -
A negra flor em um ermo cemitério -

Deixado só sem velas e nem flores,
Um epitáfio ao mármore esquecido,
Ornado por um seco vaso velho.

Retrato (Cecília Meireles)

Declamado por Paulo Autran