24 dezembro 2007

Mensagem de Natal




Fui a Belém, início do meu caminho,
Levando ouro, incenso e mirra
E admirei o sono do Menino
Que a humanidade salvaria.

Pesquei com Ele em Cafarnaum
Ao lado de Tiago, André e João
E não teria ido a lugar algum
Não fosse por Ele cumprir Sua missão.

Em Jerusalém acenei-Lhe as palmas.
Bendito fruto maduro daquele ventre
Bendito salvador de almas,
Cristo, o Ungido, que entre

Mártires os Cristãos convoca
À Oração e ao Amor do Pai,
Olhando por nós do Gólgota
Ecoando eternamente: Perdoai!

E por fim O vi ressuscitado
Com a Fé de que o pendor
Desse Jesus não mais crucificado
É ser o próprio Deus encarnado -
- De Luz e de Esplendor.

21 dezembro 2007

O Sentinela



De guarda na guarita
O sentinela fica,
Fuzil nas mãos, cinto e facão.
Nas longas horas da madrugada
Faz frio, faz solidão,
Mas o novato, de prontidão,
Guarda e vigia o batalhão.
Sem passatempo, cigarro barato,
Ouve tremer por entre o mato
O corriqueiro farfalhar da vegetação.
E nada há lá fora, ermo deserto verde.
Já ansioso e suando em bicas,
Não há farda nem coturno,
Fuzil, pistola ou munição
Que tirem-lhe o medo da noite escura.
E o sentinela sem saber direito
Leva a coronha de encontro ao peito
E abre fogo ao alto e ao chão.
Com a lanterna em punho e tremendo,
O corajoso soldado-escoteiro
Ainda vê o rabo de um gato preto
Seguido de um miado de reclamação.

14 dezembro 2007

A Mulata Caribenha

Di Cavalcanti - Gafieira, 1944 Óleo s/tela, 64 x 80 cm
Coleção Marta e Rubens Schahin, São Paulo, SP



A mulata caribenha,
Do alto de seu salto alto,
Risca a cera do salão na noite da gafieira.
Bolsa em corvin, anel de “brilhante”,
Ela baila, elegante,
Faz piso do meu coração.
Ah, e aquele baton carmin?
Essa nêga faz pouco caso de mim!
Vestido colante, sutiã branco de renda,
Ela me esnoba sorridente.
E aquele decote? Seios de bronze!
Quantos olhares pousados ali?
Mas ela derruba-os todos com um requebrar dos quadris.
Eu me cato do chão e com alguma honra
Tento me recompor,
Mas a danada da mulher agora me fita oferecida,
Linda como uma flor.
Ah aquela mulata ingrata
De uma gafieira barata
Que sambou com os meus desejos.
Eu espero que no fim da noite
Ela se renda e arfe entregue aos meus beijos.
Mas enquanto o samba não pára, o bolero não cala
E os compassos não deixam de riscar o chão,
A mulata caribenha quebra os quartos
E faz de gato-sapato os sonhos da multidão.

09 dezembro 2007

As Garças


Garças gralham e galhofam
De outras garças desengonçadas,
E com graça fazem gracejos
Até da desgraça das outras garças.
Garças são graciosas.
Garças são engraçadas
Grassando loucas no espelho d´água,
Grafando-o com seus bicos grafiteiros.
E quando encontram um peixe graúdo...
São gratas e dão Graças.

08 dezembro 2007

O Louco

Segue-me!,
Pois tu também és louco.
E de um tudo, sempre
Permanece um pouco,
E que loucura é maior
Ver da semente surgir
Um Jequitibá, colosso?
Segue-me, seu tolo!
Abandona as tuas certezas
Insoluvéis, os teus terrores
Injustificavéis, os teus sonhos
Irrealizáveis, insanos!
Vem ser comigo mais um mundano,
Um bêbado, um crente, um santo.
Vem ver comigo um mundo
Que ninguém mais vê.
Vem ter comigo a alegria
Incontida, a Fé concebida,
A noite e o dia sob teus pés.
Segue-me, simplesmente,
Que eu viajo pelo mundo
Sem vigiar meus passos -
Ele o faz por mim,
E esse cachorro que me segue -
Nem é meu,
Alerta, mais do que eu,
Reconhece os perigos do caminho.
Eu so faço contemplar estrelas.
Leve e eternamente solto...
Um louco!
Como são todos os vagabundos e poetas.