03 janeiro 2008

Temporal

Dai-me essa água clara
Dos céus tombada,
Água das tardes de verão
Que me encontram agora.
Dai-me mundos,
Céus escuros e trovoadas
E essa torrente de água
Encantada, faíscas prateadas
Sob a luz da minha cidade.
Dai-me esses sons rolantes,
Pingos em castatas
Sobre telhas de argila, zinco
E amianto,
Dai-me esse pranto
Próprio dos salões da igreja,
Testemunhas do retalhar nos vitrais.
Dai-me a certeza da chuva que cai
Em tardes quentes de mormaço
Que recolhe os passarinhos,
Mas liberta as crianças
Nas poças d’águas,
Meias encharcadas,
Gargalhadas de moleques,
Ventos repentinos,
Pipas para sempre perdidas,
Infância brevemente reencontrada.

4 comentários:

Anônimo disse...

Estou fã. E com vontade de deixar a pose e dizer: o poema está enebriante. Retomando a pose de crítica: cada vez encontro seus poemas mais bem sucedidos.
Ah, o negócio é que gostei D+.

Letícia Losekann Coelho disse...

Muito lindo o poema Alê!
beijos

Carolina Cristina disse...

criança, chuva e poesia, que encontro mais temporesco e agradável!!!
bjos...

Anna Bárbara disse...

Às vezes, em alguns textos, algumas figuras me prendem a atenção mais que o de costume, e esse "Pipas para sempre perdidas, Infância brevemente reencontrada." é um desses trechos.
Muito bom, tio.