07 janeiro 2007

A Graça da Vida


A graça da vida é não saber. Fica sereno quem arruma, com os entes e as coisas, o seu museu de encantamentos. Sem fichas. Nunca que eu quis explicações sobre o que eu tenho sentido. Vejo os meus sonhos. Ouço as minhas músicas. Ando pelos meus jardins. Dou à minha gulodice o prazer que ela me fantasia. Estas mãos, tantas vezes pousadas em livros, em flores, em outros alimentos terrestres, continuam mãos abertas a todas as surpresas. Um dia, na praia, o cavalheiro erudito, indo até lá, como disse: "para sorver o ar isolado", porque me encontrou adorando a cor do céu, logo se manifestou: - Sabe por que é azul a cor do céu? - Confessei humildemente: - Não. E não me conte, pelo amor de Deus!
MOREYRA, Álvaro. As amargas, não. RJ: Editora Lux, 2ª ed., 1955

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