03 outubro 2007

A Soledade e a Plenitude



Não há um lugar,
Um sequer, nenhum somente.
Um lugar em que, solenemente,
Prenda-se o fio de minha vida.
Não há paisagens ou paragens de que,
Entre fotos e lembranças,
Eu guarde recordações saudosas -
Venturosas esperanças.
Não há sorrisos de que sinta falta,
Nem angústias em minha solidão.
Não lembro de beijos, cheiros, toques
Nada é, pois, prisão aos meus sentidos.
Nem há nada que me provoque
Ou fustigue a mansidão do meu castigo.
Sou um louco, um triste, um solitário,
Dirão outros por vezes ao me ver
Melancólico nesse sóbrio devaneio,
Sozinho num umbral negro e fecundo
Em busca de alguma seiva em minhas raízes.
Sou poeta, arcanjo, um santo, um vil,
Mas vivo essa loucura casta,
Ardente como uma febre juvenil,
De alma limpa e de corpo inteiro,
De peito aberto, à mostra as cicatrizes.
E sigo assim por esse e pelo outro mundo,
Como um confesso perdulário
Que tem somente a soledade e a plenitude -
- E para quem isso já basta!

3 comentários:

Letícia Losekann Coelho disse...

Vou enviar para minha mãe este...acho que combina com ela! Posso... bjs

Saramar disse...

Alexandre, são plácidos os versos, apesar do tema dilacerante.
Lembrou-me muito Fernando Pessoa.

beijos

Carolina Cristina disse...

A solidão! Às vezes uma amiga, às vezes uma inimiga...
Bjos...