02 agosto 2008

Soneto dos vaga-lumes (Waldemar Lopes)



Era o impúbere céu, era a anteaurora
translúcida. Na meia-luz contida
de súbito se abria, aura sonora,
a flor do canto, logo emurchecida.

Mas no chão da memória surge agora,
de matérias do tempo concebida,
visão morta da noite feita aurora
(e uma vida fundida noutra vida).

Chispas de azul verdefosforescendo
trazem à solidão da terra acesa
o secreto esplendor da alma apagada.

Ritmo de lume e cor, nascem morrendo,
enquanto cresce –tensa de beleza,
madura de silêncio – a madrugada.

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