Para lá dos montes afastados havia outro mundo, um mundo temeroso
GRACILIANO RAMOS
Deixei a luz fosca daquele luar
Na curva do rio que embalava meu sono.
Na esteira de estreitas estradas
Pisei as folhas cadentes do outono.
Deixei um mundo sem paz e sem dono,
E meus pés, levantando a poeira,
Deixaram um choro pungido
Sob um teto sem eira e nem beira.
Pra trás, as velhas casas da aldeia,
As poucas taipas caiadas de branco.
Levei comigo uma dor escondida
Pelo rio sem calado e barranco.
E o rapaz daquele desejo franco
Seguiu a pintar sua nova aquarela
Sem lembrar das lânguidas lágrimas
Debruçadas em uma seca janela.
Nem se voltou ao cruzar a capela;
Afastado da luz de seus olhos castanhos,
E levando nos dele só um opáco vazio
Sobre um peito marcado de lanhos.
Se da janela, voltada aos rebanhos,
Das amargas lágrimas brotar a semente
Da saudade daquele amor que se foi,
Eu peço ao meu Deus tão somente
Que a dor desse corte se ausente,
E que a flor que secou por meus planos,
Floresça na terra frondosa,
Diferente da lívida rosa dos últimos anos.
Um comentário:
Oi Alê,
pois é... fechei o blog de política, preferi ficar somente com as coisas "lights" (poesias e contos).
Adorei a poesia, muito bonita!
abraços
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