É impossível percorrer uma qualquer gazeta, seja de que dia for, ou de que mês, ou de que ano, sem aí encontrar, em cada linha, os sinais da perversidade humana mais espantosa, ao mesmo tempo que as presunções mais surpreendentes de probidade, de bondade, de caridade, a as afirmações mais descaradas, relativas ao progresso e à civilização.
Qualquer jornal, da primeira linha à última, não passa de um tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, impudicícias, torturas, crimes dos príncipes, crimes das nações, crimes dos particulares, uma embriaguez de atrocidade universal.
E é com este repugnante aperitivo que o homem civilizado acompanha a sua refeição de todas as manhãs. Tudo, neste mundo, transpira o crime: o jornal, a muralha e o rosto do homem.
Não compreendo que uma mão pura possa tocar num jornal sem uma convulsão de asco.
(Charles Baudelaire, in "Diário Íntimo")
04 julho 2010
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Um comentário:
Essa é a função primordial da imprensa: retratar o que são as pessoas, suas vidas e interesses reais. O sonho, o idealizado estão na literatura. Mesmo assim, precisam estar povoados com o lado obscuro do ser humano. São os jornais que nos mantêm prontos para alterar o possível e necessário. Parabéns pelo Blog. Já começou a criar expectativas.
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