29 setembro 2007

Tempo Perdido




Por onde andarão os amigos que deixei,
Os amores que vi ou que me viram partir
E dos quais nada mais encontro
Além da saudade que por breves instantes
Emerge de lembranças já cauterizadas pelo tempo?

Por onde andarão as virtudes esquecidas,
Os vícios da minha juventude
Plenamente acompanhados de dores e prazeres,
De livros e caminhos, sucessos e fracassos?

Por onde andarão as memórias de outros dias,
De outra década, de outra infância,
Não desta que vivo agora em corpo embrutecido,
Mas daquela em esqueleto de menino
Cuja semelhança se dá apenas pela dúvida,
pela indecisão e incertezas no futuro?

De que adiantam meus esforços,
Minha energia despendida em coisas sem importância
E que o tempo se encarregará de desbotar
Até as nódoas mais encardidas dos aborrecimentos
De um cotidiano em quase tudo vulgar
Querendo devorar até a Fé em meus valores?

De que adiantam os pequenos prazeres
Com os quais anestesio meus sentidos,
Minhas dores e dissabores,
Se bastam alguns segundos para a realidade se colocar
Como a única grade e cela de minha vida?

De que adiantam esses dias
Tão vagos, Vazios em tudo,
Tão mal vividos?

De que servem essas palavras,
Rabiscos surgidos numa manhã de domingo
E que não significam nada?
Nada resolvem -
- São lamúrias do meu tempo perdido.

27 setembro 2007

Ressurge sobre mim...(Mihai Eminescu)

Ressurge sobre mim, ó luz serena,
Como em meu sonho celestial de outrora;
Ó Santa Mãe, ó Virgem pura e plena,
À minha noite dá luz, Nossa Senhora!

Meu ideal não deixes ir morrendo,
Embora fundas culpas tenha sido;
O Teu olhar, de lágrimas se enchendo,
Faz descer sobre mim, compadecido.

Longe de todos, no sofrer perdido,
Em fundo abismo, eis-me com meu nada.
Não creio mais em mim, estou vencido.

Dá-me vigor e a crença renovada,
Volta do céu de estrelas estendido,
Que eu Te adore, Maria Imaculada!


Tradução: Luciano Maia

Palavras (Olavo Bilac)




As palavras do amor expiram como os versos,
Com que adoço a amargura e embalo o pensamento:
Vagos clarões, vapor de perfumes dispersos,
Vidas que não têm vida, existências que invento;
Esplendor cedo morto, ânsia breve, universos
De pó, que o sopro espalha ao torvelim do vento,
Raios de sol, no oceano entre as águas imersos
-As palavras da fé vivem num só momento...

Mas as palavras más, as do ódio e do despeito,
O "não!" que desengana, o "nunca!" que alucina,
E as do aleive, em baldões, e as da mofa, em risadas,

Abrasam-nos o ouvido e entram-nos pelo peito:
Ficam no coração, numa inércia assassina,
Imóveis e imortais, como pedras geladas.

26 setembro 2007

Rosa (Pixinguinha)


Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu
Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouço confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer

Terra Oca

- A Terra é oca! A Terra é oca!
Bradou como um novo Eureka Universal.
De longe o velho pescador sisudo
Sem da rede remendada se afastar,
Emendou:
- E a estupidez humana
É vasta e profunda
Como o
Mar.

25 setembro 2007

HaiKai


O vento corta o silêncio.
Na noite morna
Bambuzais são flautas afinadas.

24 setembro 2007


Sentado num Café na antiga rua do centro da cidade,
Mesinha à beira da calçada sob um ombrelone,
Eu lia um velho livro sem capa de verso e prosa
Distraído do mundo sob um leve raio de Sol.
Só percebia a vida pela fumaça da xícara
E pelo vento e o perfume de quem passava ao longe
Em frente a velha casa de fachada rosa.

Eu, eterno distraído de costas para o fluxo
Que pela esquina corria e contornava-me como um rio,
Mal notava o ir e vir dos que se apressavam para o trabalho
Perdendo o tempo e aquela manhã já morna.
Soprou um vento espalhando as migalhas do meu pão.
A bela garçonete limpou a minha mesa com um sorriso -
Um riso hirto como o de uma carta do baralho.

O café esfriava, o pão adormecia e eu, sonolento,
Vasculhava as pessoas e carros pela rua.
Olhava o relógio - ainda tinha tempo até às 8
Enquanto ainda observava a sacada do casarão.
Tirando os pombos tudo ainda era bonito.
Faltava um azulejo ou outro na parede nua
Que meu olhar perscrutador percorria afoito...

Parado ali, lancei o mesmo olhar compadecido,
Vendo o passado transfigurado e triste
De cicatrizes, marcas das épocas vividas,
E outras nem tão velhas, mas ainda mais dolosas.
A casa respirava talvez seus últimos suspiros
Pelos poros abertos de um tijolo qu´inda resiste
E de azulejos de opacas e cinzentas feridas.

Conforme o sol avançava pelo céu anil
Fui descobrindo pela fresta das janelas brancas
Que a luz invadia morna e difusa o interior da casa.
Na cumeeira faltavam telhas, faltava o forro,
E de um vitral meio translúcido por um dos tempos
Eu vi a sala ornada por velhas e douradas sancas
Que trazia ao centro uma aquarela com duas asas.

Conta a história recente de quem a conhecia
Que o dono, antigo barão do café do interior do estado,
Famoso pelos bens e mal trato com os escravos
E pelas festas com toda a nobreza reunida
No largo e brilhante salão em paquet paulista,
Certa noite de outro século dormira um sono iluminado
E sonhou ver nas palmas duas marcas de cravos.

Acordando em sobressalto pela dor pungente,
Pareceu-lhe ver a figura de um anjo ao pé da cama
Que aos poucos se dissolveu na noite escura
Perdido entre as paredes do suntuoso quarto.
O barão, impressionado até o fim de sua vida,
Contou de uma bela forma a noite do seu drama
No teto do salão com um par de asas na pintura.

E quem olhava aquelas imensas asas alvas
Bem do centro do salão sobre uma rosa
Via refletido num pequeno espelho prateado
A própria face assustada e fria entre as asas.
Quisera o barão com simbolismos desenhados
Mostrar de todos a outra face branda e piedosa
Entre as asas magnificas do anjo ali fincado.

E hoje se não fosse por faltar o espelho prateado,
Aquelas asas tênues no céu do teto se perdendo
Fariam ao visitante de outro século, comovido
Perceber a grandeza da pintura mística
No retrato da visão do antigo dono.
Os que olharam sentiram um fogo lhes ardendo
E confessaram verem em si mesmos um anjo decaído.

10 setembro 2007

Do Toque



Amor,
Não há verdade maior
Do que aquela que ouviste
Eu sussurrar em teu ouvido
Nas noites quentes e distraídas
De um longínquo verão.
Nada que tenha escapado,
Que tenha sido esquecido
Na distância dos lábios
Selados de palavras tolas
Por beijos inquietos, infinitos.
Nada que tenha fugido ao toque
No aceno de mãos
Tão plenamente espalmadas
Com as quais tateamos
Nossos sonhos,
Nossos corpos
E um punhado de estrelas.

04 setembro 2007

Os Roedores


- Os ratos tomarão conta do navio!
Invadiram pelas cordas e correntes,
Sorrateiros durante as madrugadas.
Não vigiamos!
Bebíamos em todas aquelas noites.
Eles agora comandam a cozinha.
Em breve controlarão até a nossa água.
Ratos, meu senhor.
Do tamanho e peso de gatos,
Porém mais espertos, sagazes.
Chegaram nessas madrugadas
Em que sempre festejávamos nossas vitórias.
Hoje estão na cozinha e na despensa,
Mas em breve tomarão toda a nave.
Não aguardam a hora.
Dizem até querer o leme e a sua cabine, senhor.
Na biblioteca já destruíram seus livros.
Prometem escrever outra história a partir de agora.

- Um navio comandado por um roedor?
Que despropósito! O que falta mais?
Combatamos esses loucos animais.
Já lutamos mil guerras.
Já vencemos inimigos mais sanguinários.
No que eles serão mais capazes do que outros vencidos?
O que devemos temer?
Ratos, apenas ratos.
E como ratos hão de morrer.

- Capitão, é certa a sua decisão,
Mas essas criaturas vieram para ficar.
Dizem ser a nova tripulação,
Uma nova ordem, sei lá.
Alguns homens já se atiraram ao mar.
Disseram que já sondavam nosso barco
Quando acostado e quando estuado.
Ficaram lá, margeados, marginalizados,
Esperando ancorados
As brechas por onde entrar.
Nas noites em que baixamos a guarda
Não vimos nenhum.
No avançar das madrugadas
Regadas a festas e rum,
Eles espreitavam entre nós,
Soprando pelo barlavento
Suas mentiras em guinchos ensurdecedores
Que ainda assim não demos ouvidos.
Não demos atenção ao bando pestilento.
São os novos piratas. Hordas alopradas.
Estiveram sempre lá.
De migalha em migalha nos assaltavam,
Mas agora o fazem às toneladas.

- Mas são apenas ratos. Não entendo!
Seres grotescos, animais nocivos,
Mas podem ser facilmente esmagados,
Escaldados ou mesmo queimados vivos.
Não precisamos de canhão,
De florete ou fuzil.
Dai-lhes veneno
Que se vão do navio.

- O capitão não vê?
Os ratos, senhor,
Fazendo alarido na cozinha,
Também já tomaram o cais.
Estão aos milhares, milhões,

Promovendo desordem e bandalheira.
Por mais que não possamos crer,
Infestaram o porto, a cidade,
Rasgaram a nossa bandeira

E de um vermelho sangue
Tingiram os valores de nossos pais.

- Que calamidade!
Quais são nossas chances?
Resta-nos levantar âncora e partir
Ou ficar e lutar por dias, semanas ou meses a fio?

- Não, senhor, não devemos desistir,
Mas os que nos cercam derrubando panelas,
Fazendo algazarra com nossas reservas.
Os que nos espreitam, olhos famintos,
Roubando o que levamos anos para construir,
Agora já limpam os bigodes fartos de tudo

E nos atiram num profundo e macabro vazio,
Roendo também a nossa Liberdade.
Não temos escolha...
Os ratos já tomaram o Brasil.

03 setembro 2007

Este lado da Verdade (Dylan Thomas)

Para Llewlyn

Este lado da verdade,
Meu filho, tu não podes ver,
Rei de teus olhos azuis
No país que cega a tua juventude,
Que está todo por fazer,
Sob os céus indiferentes
Da culpa e da inocência
Antes que tentes um único gesto
Com a cabeça e o coração,
Tudo estará reunido e disperso
Nas trevas tortuosas
Como o pó dos mortos.

O bom e o mau, duas maneiras
De caminhar em tua morte
Entre as triturantes ondas do mar,
Rei de teu coração nos dias cegos,
Se dissipam com a respiração,

Vão chorando através de ti e de mim.

Tradução: Ivan Junqueira

02 setembro 2007

O Cemitério Marinho (Paul Valéry)

Esse teto tranqüilo, onde andam pombas,
Palpita entre pinheiros, entre túmulos.
O meio-dia justo nele incende
O mar, o mar recomeçando sempre.
Oh, recompensa, após um pensamento,
Um longo olhar sobre a calma dos deuses!

Que lavor puro de brilhos consome
Tanto diamante de indistinta espuma
E quanta paz parece conceber-se!
Quando repousa sobre o abismo um sol,
Límpidas obras de uma eterna causa
Fulge oTempo e o Sonho é sabedoria.

Tesouro estável, templo de Minerva,
Massa de calma e nítida reserva,
Água franzida, Olho que em ti escondes
Tanto de sono sob um véu de chama,
-Ó meu silêncio!... Um edifício na alma,
Cume dourado de mil, telhas, Teto!

Templo do Templo, que um suspiro exprime,
Subo a este ponto puro e me acostumo,
Todo envolto por meu olhar marinho.
E como aos deuses dádiva suprema,
O resplendor solar sereno esparze
Na altitude um desprezo soberano.

Como em prazer o fruto se desfaz,
Como em delícia muda sua ausência
Na boca onde perece sua forma,
Aqui aspiro meu futuro fumo,
Quando o céu canta à alma consumida
A mudança das margens em rumor.

Belo céu, vero céu, vê como eu mudo!
Depois de tanto orgulho e tanta estranha
Ociosidade - cheia de poder -
Eu me abandono a esse brilhante espaço,
Por sobre as tumbas minha sombra passa
E a seu frágil mover-se me habitua.

A alma expondo-se às tochas do solstício,
Eu te afronto, magnífica justiça
Da luz, da luz armada sem piedade!
E te devolvo pura à tua origem:
Contempla-te!... Mas devolver a luz
Supõe de sombra outra metade morna.

Oh, para mim, somente a mim, em mim,
Junto ao peito, nas fontes do poema,
Entre o vazio e o puro acontecer,
De minha interna grandeza o eco espero,
Sombria, amarga e sonora cisterna
- Côncavo som, futuro, sempre, na alma.

Sabes tu, prisioneiro das folhagens,
Golfo roedor de tão finos gradis,
Claros segredos para os olhos cegos
Que corpo a um fim ocioso me compele,
Que fronte o atrai a tal rincão de ossadas?
Um lampejo aqui pensa em meus ausentes.

Sacro, encerrando um fogo sem matéria,
Pouca de terra oferecida à luz,
Prezo este sítio, que dominam tochas,
Composto de ouro, pedras e ciprestes,
Onde mármores tremem sobre sombras.
O mar lá dorme, fiel, sobre meus túmulos.

Cadela esplêndida, afugenta o idólatra!
Quando, sorriso de pastor, sozinho
Apascento carneiros misteriosos
- Branco rebanho de tranqüilos túmulos -
Afasta dele as pombas temerosas
Os sonhos vãos, os anjos indiscretos.

Aqui vindo, o futuro é indolência.
Nítido inseto escarva a sequidão;
Tudo queimado está desfeito e no ar
Se perde em não sei que severa essência,
Faz-se a amargura doce e claro o espírito.

Os mortos estão bem, sob esta terra
Que os aquece e resseca seu mistério.
O meio-dia no alto, o meio-dia
Quedo se pensa em si e a si convém.
Fronte completa e límpido diadema,
Eu sou em ti recôndita mudança!

Eu, somente eu, contenho os teus temores!
Meus pesares, limitações e dúvidas
São a falha de teu grande diamante...
Em sua noite grávida de mármores,
Entanto, um povo errante entre as raízes
Tomou já teu partido, lentamente.

Dissolveu-se na mais espessa ausência;
Bebeu vermelho barro a branca espécie;
Passou às flores o dom de viver.
Dos mortos, onde as frases familiares,
A arte pessoal, as almas singulares?
Tece a larva onde lágrimas nasciam.

O riso agudo de afagadas jovens,
Olhos e dentes, pálpebras molhadas,
O seio ousado desafiando o fogo,
Sangue a brilhar nos lábios que se rendem,
Últímos dons e dedos que os defendem
- Tudo se enterra e ao jogo outra vez volta.

E tu, grande alma, acaso um sonho esperas,
Despido, então, das cores de mentira
Que a estes meus olhos a onda e o ouro mostram?
Cantarás, quando fores vaporosa?
Tudo flui! Porosa é minha presença;
A sagrada impaciência também morre.

Magra imortalidade negra e de ouro,
Consoladora com horror laureada,
Que seio maternal fazes da morte
- O belo engano, a astúcia mais piedosa!
Quem não conhece e quem não repudia
Esse crânio vazio, o riso eterno?

Pais profundos, cabeças desertadas,
Que sob o peso de tantas pàzadas
Terra sois, confundindo os nossos passos!
O verdadeiro verme, irrefutável,
Não para vós existe, sob a lousa
Ele de vida vive e não me deixa.

Amor, talvez? Talvez ódio a mim mesmo?
Seu dente oculto está de mim tão próximo
Que qualquer nome, acaso, lhe convém.
Que importa!... Ele vê, quer, sonha, ele toca:
Minha carne lhe agrada, e até no leito
Vivo de pertencer a este vivente.

Zenão, cruel! Zenão, Zenão de Eléia!
Feriste-me com tua flecha alada,
Que vibra, voa e que não voa nunca.
O som engendra-me e a flecha me mata!
O sol... Ah, que sombra de tartaruga
Para a alma, Aquiles quedo e tão ligeiro!

Não, não!... De pé! No instante sucessivo!
Rompe meu corpo, a forma pensativa!
Bebe meu seio, o vento que renasce!
Esta frescura a exalar-se do mar
A alma devolve-me... Ó, poder salgado!
Corramos à onda para reviver!

Sim, grande mar dotado de delírios,
Pele mosqueada, clâmide furada
Por incontáveis ídolos do sol,
Hidra absoluta, ébria de carne azul,
Que te mordes a fulgurante cauda
Num tumulto ao silêncio parecido,

Ergue-se o vento! Há que tentar viver!
O sopro imenso abre e fecha meu livro,
A vaga em pó saltar ousa das rochas!
Voai páginas claras, deslumbradas!
Rompei vagas, rompei contentes o
Teto tranqüilo, onde bicavam velas!


Trad. de Darcy Damasceno e Roberto AIvim Confia

01 setembro 2007

Sensação (Arthur Rimbaud )


Pelas noites azuis de verão, irei em atalhos sob a lua,
Picotado pelos trigos, pisar a grama pequena:
Sonhador, sentirei nos pés o frescor que acena.
Deixarei o vento banhar minha cabeça nua.

Não falarei, não pensarei em nada sequer:
Mas me subirá na alma o amor soberano,
E irei longe, bem longe, feito um cigano,
Pela Natureza — feliz como se estivesse com uma mulher.

Março 1870.
Imagem: CAMPOS DE TRIGO COM CORVOS - 1890 MUSEU NACIONAL VINCENT VAN GOGH, AMSTERDAM