31 outubro 2006

É o início do fim

Parte da imprensa já foi comprada pelo atual regime e aqueles que fizerem parte da oposição serão cassados implacavelmente (veja o link). Voltaremos a idade das trevas nesse país... "Petistas que aguardavam Lula em frente ao Palácio da Alvorada agrediram os jornalistas que estavam à porta, fazendo o seu trabalho. Os manifestantes gritavam palavras de ordem contra a imprensa. Um dos democratas agrediu um repórter duas vezes com o mastro da bandeira do partido. Outra jornalista foi empurrada. “Eu prefiro a ditadura do que a imprensa" e "Vamos fechar todos os jornais", diziam entusiasmados. "Se falar de dossiê, vai levar dossiê na cara", ameaçava um outro. Ouvido, um representante da Fenaj — Federação Nacional dos Jornalistas — afirmou que isso acontece porque os jornalistas “provocam”."

Prazer, Zé Ruela

Agora só falta encontrar o Zé Mané e o Zé Goiaba.

O esforço necessário

"Sem o suor do trabalho, muitos querem ser felizes;
pode haver flores num galho, sem o esforço das raízes?"
(Heber Salvador de Lima)

Samba do Avião

"Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar Praia sem fim
Rio, você foi feito prá mim"

Militância ou Intolerância?


Essa aconteceu há duas semanas, mas não lembro de ter sido divulgada na TV.

Daniela Tristão, 38 anos, publicitária, vota em Lula. No início da madrugada de segunda-feira (16), depois de ter participado de uma caminhada de Ipanema ao Leblon em defesa da candidatura petista, ela passou pelo bar Bracarense e chegou ao Jobi, no baixo Leblon. Ela, o marido Juarez Brito e um casal de amigos, Mirna e Zé. Ela e Mirna usavam camiseta com o escrito "Lula sim". Logo à chegada, foram recebidos com apupos, vaias e ofensas. Depois de discussão, Daniela pagou a conta e decidiu ir embora. Já na calçada, foi atacada a dentadas pela tucana Ana Cristina.

Fonte: (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1197152-EI6578,00.html)

Já no blog do Arnaldo no O Globo, há um e-mail de um senhor chamado Arthur Motta, marido da senhora que decepou, com uma mordida, o dedo da petista no Jobi. Segundo ele o que aconteceu foi desencadeado pela "tropa de choque de militantes do PT" que perturbou a calma do bar, ofendeu os frequentadores e atacou a sua esposa com um tapa no rosto e depois com unha no olho, tendo ela nesse instante, reagindo em legitima defesa, decepado a última falange do dedo anular da petista.


Versões diferentes para uma mesma infâmia. O que teria sido isso? Apenas um grande mal entendido durante a madrugada num bar do Leblon com um desfecho trágico ou mais um dos tantos momentos de intolerância da sociedade que vivemos?

Estamos acostumados a ouvir falar sobre intolerância como algo distante de nós e o Oriente Médio é sempre um bom exemplo de ações movidas pela intolerância, que acabamos por esquecer daquela que se senta ao nosso lado num bar ou no engarrafamento nosso de cada dia. E isso acontece porque não queremos perder. Não podemos perder. Vivemos a tal ponto uma competição diária por espaço e reconhecimento, que qualquer coisa contrária a nossa vontade já é vista como uma agressão pessoal. Experimente discordar de alguém por uma coisa banal...eu costumo fazer isso com alguns amigos e familiares. Chega a ser engraçado quando a pessoa percebe que eu estou agindo daquela forma de propósito. (falarei sobre isso em outra oportunidade ao comentar o sequestro da amidala). Podem me cobrar.

Eu tenho uma história sobre intolerância que aconteceu quando eu tinha uns 16 anos. Eu ajudava no treinamento das categorias de base da escolinha de futsal do clube que era sócio. Isso tem tanto tempo que nem me lembro se as categorias ainda tem o mesmo nome. Naquela época eram fraldinha, dente-de-lente, infantil, juvenil etc. Treinávamos a molecada e organizávamos campeonatos com outros clubes do Rio. A idéia era fazer aquela festa com uniforme, torcida organizada e como as crianças em sua grande maioria eram muito pequenas, faziamos a premiação de todos que participavam independente de colocação.

Acontece que nesse meio sempre existe algum pai frustrado que tenta passar para o filho o talento que não tinha, mais o desejo que sempre teve de ser jogador de futebol. Numa certa partida de um campeonato, havia um menino muito bom tecnicamente que fazia fila com a molecada do outro time. Algo como um Ronaldinho em miniatura. O moleque era muito bom realmente e tinha até cartaz com o nome dele. O pessoal dos outros clubes e até quem não tinha nada a ver com a história, sempre lotava o ginásio quando o garoto ia jogar. Era uma sensação.

Pois bem....voltando ao pai frustrado, partida até de purrinha em clube do suburbio sempre é regada a cerveja e aquele churrasquinho em roda de escort. E se não me falha a memória, Abolição e "adjacenças" eram os lugares que mais consumiam cerveja no Rio e que mais tinham escorts depenados. Com isso, adicionamos o combustível fundamental para uma boa confusão. Muita gente, muita bebida e um garoto de 7 anos que entortaria a maioria dos adultos mangüaçados já pra lá de Cascadura às 2 horas da tarde.

A partida nem estava na metade do primeiro tempo e o moleque já tinha feito uns 4 gols. Foi nessa hora que o pai em questão, pai do beque-parado (nem se usa mais esse termo hoje em dia), equilibrando com maestria uma lata de cerveja numa das mãos e um espeto de carne com farofa na outra, grita para o filho que já não sabia mais o que fazer para parar o pestinha do time adversário:

- Quebra a perna dele!!!!
(nunca irei esquecer esse grito)

Bom, não é preciso dizer mais nada para imaginar o que acontece quando alguém grita uma bobagem dessas para o filho de 6 anos ao lado do pai do melhor jogador da partida. Em questão de segundos se formou uma guerra generalizada do lado de fora da quadra com todo tipo de artefatos. Bandeiras, copos de vidro e descartavéis, latas de cerveja e refrigerante, cadeiras de plástico e até a maçaneta da porta do banheiro foram algumas das coisas que, do banco de reservas, eu conseguia ver voando de um lado a outro das torcidas.

Nessa hora os meninos simplesmente pararam com o jogo sem que houvesse a intervenção do arbitro e começaram a chorar no meio da quadra ao verem seus pais brigando nas arquibancadas. Nunca vi uma cena daquelas. Foi então que o técnico da nossa equipe mandou que eu fizesse uma coisa que só fazíamos no final do jogo. Corri até a bolsa com o material esportivo dos pivetes, peguei a caixa de bombons e joguei os bombons na quadra. Foi o que fez com que as crianças dos dois times se desligassem do tumulto que já estava sendo contornado pelos seguranças e pela turma-do-deixa-disso, e corressem para pegar a chuva de bombons.

Esta foi a primeira vez na vida que vi de perto a face bestial da intolerância e de como podemos ser estúpidos por coisas tão banais.

E eu com isso?










"Ninguém comete erro maior do que não fazer
nada porque só pode fazer pouco."

Edmund Burker

30 outubro 2006

Mote de Thel

Sabe Águia o que há na toca?
Ou à Toupeira perguntarás do que se trata?
Cabe a Sabedoria numa vara de prata?
Ou o Amor numa taça de ouro?
(Willian Blake)

As Crianças (Khalil Gibran Khalil)


E uma mulher que acalentava um bebê disse:


- Fale-nos de crianças...

E ele disse:





- Tuas crianças não são tuas crianças.
Elas são os filhos da Vida que anseia por si mesma.
Elas vieram através de ti mas não de ti,
e a despeito de estarem contigo
elas não te pertencem.

Tu podes dar-lhes teu amor
mas não teus pensamentos,
pois elas têm seus próprios pensamentos.

Tu podes hospedar seus corpos mas não suas almas,
pois suas almas habitam na casa do amanhã,
que não podes visitar, mesmo em teus sonhos.

Tu podes empenhar-te para seres como elas,
mas não tentes fazê-las serem como tu,
pois a vida não caminha para trás nem coabita com o ontem.

Tu és o arco,
do qual tuas crianças, como flechas vivas,
são impulsionadas.
Arqueiro, vê a marca,
sobre a trajetória do infinito,
a ele te dobra com seu poder,
para que tuas flechas sigam
velozes e para longe.

Faze com que a tensão na mão do arqueiro
seja para o contentamento e a felicidade;
Pois assim como Ele ama a flecha que voa,
Ele ama também o arco que é firme".

Do livro "O Profeta"

Os Conselhos do Mestre


Jovens, uma vez em pleno uso de vossa razão, fazei um inventário de vossas faculdades e de vossas forças.

Tomai as vossas medidas, estimais o que valeis e caminhai com passo seguro na vida.

Estai de guarda contra a rotina. O império da rotina familiariza o homem com a escravidão.

Preferi o bastão da experiência ao carro rápido da fortuna. O filosofo viaja a pé.

Cultivai assiduamente a ciência dos números. Vossos vícios e vossos crimes não são mais do que erro de cálculo.

Medi vossos desejos, pesai vossas opiniões, contai vossas palavras.

Escolhei sempre o melhor caminho: por penoso e difícil que seja, o hábito torna-lo-á fácil e agradável.

Sede sóbrios; um corpo muito gordo enfraquece a alma.

Não gastai mais tempo em preparar os vossos alimentos do que em consumi-los.

Não façais do vosso corpo o túmulo da vossa alma.

Para terdes grandes idéias rodeai-vos de belas imagens.

Os pensamentos dos homens são semelhantes às cores. As cores devem a sua existência à reflexão da luz.

Fazei germinar a vossa alma através da meditação e, assim, ascenderá nas alturas como a águia com as suas asas.

Aprendei astronomia antes da música. O céu planetário é todavia mais harmonioso.

Consagrai um culto a harmonia celeste.

Cada ano, no primeiro dia da primavera, reuni-vos a volta de uma lira bem afinada e cantai um hino à natureza que renasce.

Que a vossa casa, isolada como os templos, receba com eles o primeiro raio de Sol.

Não construais vossas casas demasiado grandes para não alojardes nelas coisas supérfluas.

Escrevei sobre a porta de vossa morada o que outros só escrevem sobre o seu túmulo:
“Este é um lugar de paz.”

Não aspires nunca a vaidade de serdes ricos; contribuiríeis para que houvesse mais pobres.

Não molheis o vosso pão nas lágrimas de vossos semelhantes nem no sangue dos animais.

Não sejais tirano de ninguém, nem sequer do vosso cão.

Não reconheçais a superioridade a não ser nos melhores.

Desculpai as debilidades humanas. Diz Homero que as vezes os próprios deuses se descuidam.

Entrai na casa do sábio; esteja ou não nela, sempre saireis melhorados.

Sede ao mesmo tempo amáveis e sábios. A vista de um sábio amável é o mais belo de todos os espetáculos.

Não canteis a não ser acompanhados da lira.

Não desespereis com a espécie humana. Não vos desanimeis. Com o tempo, o barro converte-se em mármore.

Viver de acordo com a Natureza é viver segundo os deuses.

Não temais morrer. A morte não é mais do que uma parada no caminho.

A verdadeira morte é a ignorância.

Se vos perguntarem: o que é a filosofia?

Dizei: É uma paixão pela verdade que dá às palavras do sábio o poder da lira de Orfeu.

Se vos perguntarem: em que consiste a virtude?

Dizei: Em estar de acordo consigo mesmo. Uma cítara bem afinada é harmoniosa. Uma alma bem harmonizada é feliz.

Se vos perguntarem: o que é o silêncio?

Respondei: A primeira pedra do templo da filosofia.

Prestai culto assíduo a Justiça, a primeira das virtudes públicas; a grande divindade dos impérios, a única providência das nações.

Honrai a memória de Numa. Este legislador queria que todo cidadão tivesse um campo.

Não vindimeis todos os vossos vinhedos. Deixai ao longo do caminho alguns cachos para o viandante sedento.

Não regueis as leis com sangue.

Tomai do sábio o azeite da sua lâmpada.

Ao reencontrar a liberdade, não useis dela em seguida; fazei-a dormitar algum tempo sobre os joelhos de Atena.

Fazei vós mesmos a felicidade sem espera-la dos governos. As abelhas são felizes sob a monarquia. As formigas são ditosas em república.

A liberdade é a ambrósia do sábio.

Fazei entrar os campos na cidade.

O homem de estado deve aprender a ciência do números para saber colocar os homens.

Mantende o povo no meio termo, entre a riqueza e a indigência. Pobre é vil. Rico, insolente.

Que se castigue o cidadão a terceira falta e o magistrado a primeira.

Não levanteis o machado contra a árvore plantada por vosso pai.

Mulheres, sede a túnica de vossos maridos.

Maridos, sede a capa de vossas esposas.

Jovens esposos, tomai como símbolo a esfinge do Egito. Não sejais mais que um.

Desejais construir um lar feliz? Que as vossas almas, sempre em uníssono, se pareçam a duas cítaras em harmonia, encerradas num único estojo.

Homem jovem: escolhe uma mulher que te esteja proporcionada, de modo que não te vejas obrigado a eleva-la até ti ou a descer até ela.

Purifica o teu coração antes de permitires que o amor se aloje nele; o mais doce mel torna-se amargo num recipiente sujo.

Não vejais no teu inimigo mais do que um amigo extraviado.

A amizade é o vínculo de duas almas virtuosas.

Faz-te um amigo para que alguém tenha o direito de te repreender quando andares equivocado.

Tarda em fazer uma amizade e mais ainda em desfaze-la.

Escreve na areia as faltas do amigo.

Sê feliz com pouca coisa.

A Harmonia é a alma do Universo.

(passagens atribuídas ao filosofo e matemático Pitágoras)

"Se" (Rudyard Kipling)

Se és capaz de manter a tua calma quando todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;

Se és capaz de crer em ti quando estão todos duvidando, e para esses no entanto achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares, ou, enganado, não mentir ao mentiroso, ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, e não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de sonhar sem se tornar um sonhador;


Se és capaz de pensar sem que a isso só te atires;

Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas em armadilhas as verdades que disseste, e as coisas, pôr que deste a vida, estraçalhadas, e refazê-las com o bem pouco que te reste;


Se és capaz de arriscar numa única parada tudo quanto ganhaste em toda a tua vida, e perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida;

Se és capaz de forçar coração, nervos, músculos, tudo a dar seja o que for que neles ainda existe, e a persistir assim quando, exaustos, contudo resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes e, entre reis, não perder a naturalidade;


Se entre amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,

Se a todos podes ser de alguma utilidade,

Se és capaz de dar, segundo pôr segundo, ao mínimo fatal todo o valor e brilho,


Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais,
Tu serás um homem, ó meu filho!

Anema e Core (Tradução)




ANEMA E CORE
Do filme "Anema E Core" (1951)
(Salve d'Esposito / Tito Manilo)

Ferruccio Tagliavini (Trilha Sonora) - 1951

Nós que perdemos a paz e o sono
E jamais dizemos o porquê
Bocas que beijam sem desejo
Eu não as conheço, meu amor
Mas eu te chamo e não respondes
Só para me machucares

Fiquemos assim, alma e coração
Não nos separemos mais, nem por uma hora
Este desejo seu me apavora
Viver contigo, sempre contigo, para não morrer

Por que então nos dizemos palavras tão amargas?
Se a felicidade pode viver num só respirar
Se eu sei que você também vibra com este amor
Vamos ficar assim, alma e coração

Talvez o pranto seja doce
Talvez até nos faça bem
Quando eu me sinto mais feliz
Não é felicidade
Mesmo que às vezes você me diga
Distraída, a verdade

Vamos ficar assim, alma e coração

Anema e Core (letra original)

ANEMA E CORE
From the film "Anema E Core" (1951)
(Salve d'Esposito / Tito Manilo)

Ferruccio Tagliavini (Film Soundtrack) - 1951

Nuje ca perdimmo 'a pace e 'o suonno
Nun ce dicimmo maje pecché
Vocche ca vase nun ne vonno
Nun só' sti vvocche oje né
Pure, te chiammo e nun rispunne
Pe' fá dispietto a me

Tenímmoce accussí, ánema e core
Nun ce lassammo cchiù, manco pe' n'ora
Stu desiderio 'e te mme fa paura
Campá cu te, sempe cu te, pe' nun murí

Che ce dicimmo a fá parole amare
Si 'o bbene po' campá cu nu respiro
Si smanie pure tu pe' chist'ammore
Tenímmoce accussí, ánema e core

Forse sarrá ca 'o chianto è doce
Forse sarrá ca bene fa
Quanno mme sento cchiù felice
Nun è felicitá
Specie si ê vvote tu mme dice
Distratta, 'a veritá

Tenímmoce accussí, ánema e core